Sintoma (conclusão)

Auteurs

  • Thomas Sebeok Universidade de Indiana Autor

Résumé

Os dois textos que encerram este número de celebração são de Thomas A. Sebeok (1920-2001), linguista e semioticista húngaro, naturalizado americano, formado na Universidade de Princeton e professor na Universidade de Indiana, EUA, um dos fundadores da biossemiótica e da zoosemiótica, uma vez que centrou seus esforços na compreensão dos processos comunicacionais entre humanos e não-humanos.

Os textos aqui publicados são intitulados “Sintoma” e “Sintoma – conclusão”. O primeiro texto trata da complexidade que é compreender uma palavra, envolvendo as dinâmicas lexicais, os conceitos e os contextos de uso. A palavra “sintoma” já traz tal complexidade, uma vez que pode ser compreendida a partir da linguística, mas também como referência médica, na realidade das sensações do corpo. Sebeok afirma que o sintoma é sentido, o signo é observado por outra pessoa. Estes dois termos cobrem o extenso campo da semiótica, ainda que frequentemente confundidos, e os termos trocados sem aviso.

Segundo o autor, esta passagem acentua a importância de separar o “mundo privado” da introspecção, relatado pela descrição dos sintomas pelo paciente, por exemplo, do mundo público dos signos relatados pela descrição do comportamento por parte do médico. A implicação semiótica é a seguinte: “Alguma coisa observada (=exterior) representa alguma coisa que é (hipoteticamente) notada pelo sujeito observado (=interior). Ou, em síntese, alguma coisa no sistema observador representa alguma coisa no sistema observado. Assim, para qualquer comunicação, esta relação complementar é obrigatória, porque o organismo e o seu Umwelt (ambiente) juntos constituem um sistema. A passagem do processo fisiológico à semiose é uma consequência do fato de o observador assumir uma postura hipotética dentro do sistema observado.

Sebeok traz as considerações de Peirce centradas no entendimento de que um sintoma nunca é uma espécie distinta de signo, mas uma mera subespécie, isto é, o índice e evidencia tal compreensão na passagem a seguir: “Tal, por exemplo, é uma peça de um molde com um furo de projétil como signo de um tiro; visto que sem o tiro não haveria o furo; mas lá está um furo, queira alguém atribuí-lo ao tiro ou não”. Aqui o ponto essencial é que o caráter indicial de um signo não seria anulado se não houvesse um interpretante, mas somente se o objeto fosse removido – a persistência e a autonomia do índice. Um índice é aquele tipo de signo que se torna tal por virtude de estar realmente em conexão com o seu objeto. “Tal é um sintoma de doença...”. Temos um índice, prescreveu Peirce em 1885, quando há uma “relação dual direta do signo com o seu objeto, independentemente da mente que usa o signo... São desta natureza os signos naturais e os sintomas físicos”.

Já o segundo texto é especialmente didático à compreensão dos fundamentos médicos da noção de sintoma. Retoma Hipócrates e, principalmente, Galeano, explicitando as características científicas dos postulados médicos. Depois, Sebeok problematiza as complexidades impostas pelas experiências sensoriais, destacando a possibilidade da instalação de verdadeiros paradoxos semióticos, tal como a seguinte contravenção clássica: “Um buraco num dos meus dentes, que me parece gigantesco quando passo a língua nele, é um sintoma subjetivo que posso escolher para falar ao meu dentista. Ele deixa-me observá-lo num espelho e fico surpreso com a abertura – o signo objetivo – trivialmente pequena”. A questão é: que interpretação é “verdadeira”, a conseguida via modalidade tátil da língua ou a transmitida pela percepção ótica (a visão no espelho)? A imagem sentida e a forma vista não correspondem. Naturalmente o dentista não está preocupado com o tamanho do buraco; ele obtura a cavidade que vê e pronto.

Sebeok encerra o texto de forma visionária quando afirma que “O futuro da sintomatologia dependerá claramente do desenvolvimento de programas usando técnicas de computador derivadas de estudos da inteligência artificial”. A IA vem sendo planejada para parodiar e complementar, se não mesmo substituir, os processos da semiótica humana, como o julgamento baseado na intuição (em outras palavras, abdução). Este conjunto formado pelos dois textos de Sebeok é a referência essencial ao entendimento do índice e seus crescimentos a partir das lógicas instauradas pelos algoritmos e sistemas de aprendizagem e correlação próprios das aplicações da Inteligência Artificial.

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Publiée

2024-12-23

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Artigos